Princípio. Foi assim que este blog começou, em Setembro de 2006:
Se fosse adivinho e olhasse para a minha mão podia perfeitamente concluir que poucas linhas esgotam tudo o que é importante.
A minha filha e Lagos - como ela nunca conheceu. Dois títulos que habitam o meu Sul: A Menina do Mar e A Fada Oriana. Duas histórias eternas. Só uma pessoa chamada Sophia as poderia ter escrito. Este Verão fui buscar a minha filha a Salema, onde passou uns dias com uma amiga. Cruzei-me então com Lagos, ao fim de muitos anos de afastamento. Mudou muito. Mas continuo a ver lá 'A Menina do Mar', sentada na esplanada ao lado da Messe. A conversar com o meu pai.
Barril. Não me identifico sem mar. Por isso, tenho um que é só meu. É lá que lavo a alma.
Fia. Um dia destes vou contar-te, Fia, como és importante para mim e como me chateia não conseguir sentar-te duas horas à volta de um peixe grelhado. Acho que vais saber isso aqui. Como também ficas ao corrente de uma ironia do destino: a Bé, irmã do meu amigo Miguel, contou-me este Verão uma história de uma dentada de um cão que foi, nem mais nem menos, passada em tua casa, em Sesimbra, há 30 anos. Já agora, também me chateia não saberes que a única coisa que sei fazer verdadeiramente bem é mesmo grelhar peixe.
Mãe. Sinto falta do abraço que deveria dar à minha mãe. Acho que é desta que vou fazer uma amplicópia da foto em que foi a mulher mais bonita do mundo, bem torrada do sol. A típica morena, brasa, dos anos 50. Sorriso feliz e cintura de vespa. Ninguém até hoje dedicou tanto carinho ao levantamento fonético e linguístico dos cuícos, nem encarou a pesca do atum - que hoje já não existe - de forma tão apaixonada.
(...)
O melhor céu. É lá que me lembro de todos. Quando me delicio a beber o meu Bombay. Continuam lá todas as constelações que conheço desde muito miúdo. É lá que está a caça às cobras com o Henrique. É lá que recordo o meu pai e o Rui, e o Jaime e as bebedeiras na ria. As tardes de poeira e os infindáveis dias de praia. O universo perfeito em formato de filme 3D. É lá que sempre penso em Azeitão, na minha irmã e no Alberto, na Inês-princesa-dos-olhos-azuis-como-ninguém-tem e no João-Coração-de-Leão. Bem perto fica o Lacém, e a memória de quando ninguém lá ia. Bem perto também estão os perdigueiros - o Tejo e o Nero. E tudo o que dava para voltar a ser repetido. Ali num terraço bem no centro do meu universo. Na Casa Azul. Em Cacela-a-Única, que para mim só há uma.
(...)
Fecho a mão?
2 comentários:
Este é um dos melhores posts/escritos que já tive o prazer de ler.
Saudades deste Blog, João. Devias ressuscitá-lo. É o melhor deles todinhos :)
E o Ilha-Barreira de onde acabo de roubar umas fotos.
Beijo enorme
Cheguei aqui tão por acaso, num daqueles momentos só possíveis quando começa a nostalgia sei lá do quê das tardes de sábado de verão.
E aqui cheguei a esta também nostálgica viagem ao passado com futuro.
Que bom este encontro, mas que pena o abandono.
Um abraço.
Maria
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