Fish*. Longe vão as noites em que bebia copos no varandim do primero andar do Bananas, enquanto via a projecçção do video de Phill Collins à bateria, numa conhecida sessão de quase intermináveis batidas. O mesmo video também era passado no Whisppers e em outras discotecas. Supostamente, tinha acabado de ser trazido para Portugal pelo P.B.. Praticamente na mesma altura, bem no início da década de 80, os Genesis, mas também os Rush e os Yes, atingiram elevados níveis de popularidade. Numa onda diferente, estavam os TRB, que marcavam a «linha dura» da altura, embora num alinhamento diferente das coisas editadas pela Stiff Records (que tinha o mote «If It Aint Stiff It Aint Worth a Fuck»). Os da Stiff eram, entre outros, o Ian Dury (& The Blockheads), os Madness e a Lene Lovich. Ainda longe da queda do muro de Berlim, os Pink Floyd anteciparam a sua melhor fase de sempre. Nesses tempos, o visionário escritor Tolkien lançou o livro Silmarillion, que acabou por inspirar toda uma geração dada a questões mais místicas e pouco fora do oculto. No meio dessa geração encontrou-se um jovem virado para a composição de temas quase indecifráveis, de seu nome artístico Fish. Em 1979, Fish e outros lançam o grupo musical Silmarillion, fortemente «colado» aos sons da altura - Pink Floyd, dos Genesis, dos Yes e dos Rush. O problema é que Tolkien não engraçou com a ideia e o nome da banda foi mesmo alterado para Marillion, sob pena deste novo grupo suportar consequências legais antipáticas se não o mudasse. Como todos os da minha geração, ouvi Marillion sem nunca ter entendido com plena certeza o conteúdo das prosas escritas por Fish. Há muita gente que assegura, com alguma picardia, que os Marillion seguiam a inspiração à letra, virando tudo do avesso -- desta forma evito tornar a coisa mais explícita!. Contudo, lá bem do fundo 'do mim', duvido que assim fosse, mas a verdade é que um dos casos mais conhecidos e invocados para exemplificar essa tese é o da passagem dos Marillion «divided we stand, together we rise», que em sentido inverso poderia ser escutada no tema «Hey You» dos Pink Floyd, do album da opera rock «The Wall», onde os Floyd dizem «together we stand, divided we fall». É certo que na altura os Floyd tiveram uma expressão quase «universal» e que, mesmo sem intencionalidade, Fish e os Marillion -- que, insisto, tinham nascido como Silmarillion --, acabariam inevitavelmente por ser influenciados pelos sons e letras dos Floyd, mas, sobretudo, mais pelas letras que pelos sons.
Convém não duvidar que, então, a influência geral dos Floyd era mesmo muito grande! Na altura em que todos ouviam o «Another Brick in the Wall» até à exaustão, houve adaptações regionais dos seus temas, sendo em Portugal frequente a que trocou a letra do «we don't need no...», pelo «atirei o pau ao gato...». Deixando a ironia de lado, não deixa de ser engraçado notar que hoje em dia há de facto um certo revivalismo de Marillion, e que deverá continuar a sentir-se em 2007, sobretudo na Holanda, onde estão programadas algumas manifestações de «solidariedade». Tornando a coisa ainda menos irónica, efectivamente a rapaziada de Port Zelande, perto da Haia (Den Hague) está a pensar fazer umas quantas coisas de 2 a 5 de Fevereiro. E não será uma iniciativa isolada. Haverá muitas outras. Quem entender na integra os textos de Fish explique porquê. E se for pelo som, já é uma boa razão!
* Ironia balofa escrita a 11 de Novembro de 2006
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