domingo, 28 de outubro de 2007

Kyoto. Traição, vingança, conspiração, sequestros e raptos, subjugação, incêndios e guerras. A Tragédia do Destino. Uma minúscula "passagem" da História do Japão. A do seu Ditador Yoritomo (1147-1199), contada no Heiji Monogatari, uma obra que tem sido atribuída ao nobre Hamuro Tokinaga - 36 capítulos distribuídos por três partes.

Trata-se de uma História incendiada pela beleza. Chamava-se Tokiwa Gozen - a concubina de Minamoto-no-Yoshitomo, opositor ao Imperador -, que Taira-no-Kiyomori, senhor plenipotenciário da Guerra Civil daquela época, não conseguiu matar, rendido ao seu encanto. Tornou-a, em vez, sua concubina, o que se saldou pela misericórdia aos três filhos dela, que foram enviados para conventos budistas. Eis a génese do Ditador. E já se perceberá porquê.

Pouco depois do Imperador Go Shirakawa (1156-1165) ter abdicado a favor do seu filho Nijo (na Época Heiji), então com 16 anos, estoirou a Tragédia. Tudo começou por uma inveja palaciana, alimentada por um misto de quebra de confiança e destrate. O Conselheiro de Estado e Ministro da Polícia, Fujiwara-no-Nobuyori (1133-1159), preparou uma estratégia para chegar a cargos mais ambiciosos, criando aliados para alicerçar uma proposta ao Imperador, supostamente irrecusável porque era suportada por figuras fortes. Apresentado o pedido ao Imperador, Nijo aconselhou-se junto do seu estratega e confidente Fujiwara-no-Michinori e, depois, negou liminarmente o pedido a Nobuyori.

Nobuyori não perdeu tempo. Iniciou logo um périplo de contactos para conspirar contra Nijo. Aliou-se nesse propósito ao poderoso Senhor Minamoto-no-Yoshitomo (1123-1160), conhecido o ódio visceral que Yoshitomo nutria contra Michinori, pois este infligira-lhe a suprema humilhação de recusar a mão da sua filha em casamento com o filho de Yoshitomo. O objectivo de Nobuyori era derrubar o poderio de Kiyomori, que odiava ainda mais por ter sido responsável pela morte do seu pai na Guerra da Época Hogen.

Kiyomori e Michinori, apoiando o Imperador, são confrontados com uma rebelião movida por Nobuyori e Yoshitomo. O golpe decisivo ocorreu na ausência de Kiyomori, que facilitou um assalto ao Palácio Imperial de Kyoto - totalmente incendiado -, consumando o sequestro de Nijo e do seu pai Shirakawa e ainda o assassinato de Michinori.

Urgentemente, Kiyomori regressou a Kyoto e incumbiu o seu próprio filho de travar a revolta. A acção foi implacável e Nobuyori feito preso e decapitado. Yoshimoto resistiu, travando uma feroz batalha, mas acabou por bater em retirada. Não teve sorte porque um assassino a soldo matou-o. E em seguida, decepou-lhe a cabeça e enviou-a para Kyoto, comprovando a execução do seu serviço.

É aqui que se retoma a questão da beleza. A concubina de Yoshimoto, Tokiwa, e os seus três filhos ficaram sob ordem de morte. Kiyomori fê-la apresentar-se perante ele. E ela foi. Mas a sua imensa perfeição, formosura e primor arrasaram-no. Kiyomori ficou com Tokiwa. E enviou os seus três filhos para conventos vigiados. Mais tarde, foram esses três filhos de Yoshimoto, já homens, que cumpriram a vingança do nome paterno. Depois de exterminarem todos os Taira, incluíndo Kiyomori, um desses três irmãos, Yoritomo (1147-1199), tomou o poder e declarou-se Ditador do Japão.

1 comentário:

. disse...
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