domingo, 10 de agosto de 2008

Alma-Coração Um pôr-do-sol cheio de pedaços de algodão. Como uma composição de crianças. Quando enchem cartolinas. Colam-lhes bolas de algodão e dizem que é um céu com núvens. E esse céu de algodão está lá para ser pintado de tons alaranjados. Como quando as crianças pintam com batas e deixam tudo cheio de tinta. De tantos tons, que mudariam a cor do algodão como acontece com um pôr-do-sol. E quantas cores tem um pôr-do-sol? É a típica pergunta que uma criança pode fazer.
Quantas cores tem um sorriso?
Quantas cores tem a alma?
E quantas almas não têm cor?
Algures perdido no Sul, há um banco que dá para ver o pôr-do-sol. Numa zona em que o sol se esconde na terra, e a terra fica para além da água, que no caso é uma ria. Algures nesse Sul passei mais de 45 anos com Verões em que o ocaso por vezes teve bolas de aldodão coladas ao céu, das cores que um arco-iris oferece, dentro de uma palete de gouaches, sempre que uma criança dorme. E nesse Sul mora a Saudade. Nem é por pieguisse. É porque os pés pequeninos - daqueles que ficam cheios de picos -, crescem e rumam para longe. É por isso que lá está o banco. Para sentar os que ficam. A ver o pôr-do-sol.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Istambul Barcos, como cacilheiros. Provavelmente gaivotas. E talvez também tenha névoas. Templos. Cantilenas de rezas, que poderiam ser terços por onde os dedos de beatas contam nós ou as contas por mor de purgatórios perdidos. Milhares de pessoas, como se viessem de freguesias cuja quantidade não há por cá, mas iguais a tantas mourarias que começam sempre nas ruas do Capelão. Mercados como as praças ou as Ribeiras. E ruas, ruas, ruas e mais ruas, onde me perco sem lembrar que tenho alma. Será que ainda a tenho? Longe e com sofrimento.